domingo, 25 de outubro de 2015

quem sabe





O assento que me cabe
Só a sina que sabe
(Na minha dança das cadeiras)
Sentar no chão também vale.


quinta-feira, 22 de outubro de 2015


" O esperado" (the awaited - 2008) da artista australiana Patricia Piccinini, na exposição COMCIÊNCIA no CCBBsp (segundo semestre de 2015).
Copiei o texto de apresentação da obra, porque parece o desfecho "real" de um antigo conto desenvolvido por mim.

Em "O tão esperado", Patricia Piccinini faz uso da emoção para falar da ética flexível,  a transformação do tempo e do amor entre as espécies.  Uma figura,  que parece mais velha,  descansa no colo de um menino. Ela foi inspirada em um dugongo, animal que provavelmente deu origem ao mito das sereias. A harmonia entre eles existem no plano real e no plano do sonho que compartilham. O tempo da genética ultrapassa o tempo da consciência da vida. O tempo de espera torna-se irrelevante diante do tempo do amor.

Texto bonito, não?


sexta-feira, 16 de outubro de 2015

pequena magia...




Ia além da física e da química
Aqui na lida, vida corrida
Quem ousaria crer na alquimia?


sexta-feira, 9 de outubro de 2015

toc toc toc...





                                     Tanto medo
                                  Sem cabimento
                                Trancando portas
                                Fechando janelas
                                 Não se deu conta
                                    Que já entrei
                            Em seus pensamentos?


uma senhora para se admirar




            Fui a uma exposição que gostei muito - "Invento : as revoluções que nos inventaram", no último dia.
Estava garoando, ainda cedo, um público minguado, uma maravilha para quem adora sossego.
A pequena senhora entrou depois de mim, logo a percebi.
Sem celular, nenhum apetrecho tecnológico como a maioria , eu inclusa, ela admirava, observava obra por obra no seu próprio tempo ... olhar - vagar.
E eu desejei ser essa senhora no meu futuro, uma mulher conhecedora do tempo e ainda curiosa, com vontade de aprender coisas novas.

Ela me impressionou tanto quanto a exposição, e a poesia apareceu no meu olhar, com um toque de sorte para completar.

E vi...
O presente chegando - perto
Junto ao meu futuro - esperando
O passado carregando o mundo
e esse ...girando, girando

(É uma poesia visual, mas não sei publicar vídeo aqui)

#crônicadocotidiano



cara de otária




Gosto de perambular por aí,  visitar as feirinhas solidárias, comprar besteirinhas ou apenas passear distraída.
Um dia desses comprei duas toalhinhas de lavabo, bordados bonitos e com preços camaradas.
Passei para uma outra barraca abarrotada de bijuterias étnicas penduradas e espalhadas pela banca e ouvi uma moça perguntando o preço das pulseirinhas feitas com sementes:
 - "uma é três,  duas por cinco",  respondeu a vendedora de cabeça baixa,  sem olhar para a cliente, mas ouvi claramente.
Peguei uma, mal feita eu achei...vou levar, queria ajudar.
- " custa dez", disse na lata, a vendedora olhando para mim!!!


PS: Hoje, faz um ano e quatro meses que um técnico para consertar a máquina de lavar roupa me levou cem reais para comprar uma peça e nunca mais vi o sujeito, a peça nem a cor do dinheiro.





sábado, 3 de outubro de 2015

o castelo...



















Não me recordo da fachada, nem a cor das paredes.
Sei em qual bairro está situado, mas não tenho o endereço. Acho que era uma casa comum. 
Havia uma garagem, uma escada estreita  e um portão onde eu era proibida de chegar perto. 
Sob essa garagem, um espaço enorme para correr e dar tchau para os aviões que passavam, e um jardim onde minha avó me pedia para arrancar uma ou outra planta e  secar tudo em uma peneira de vime (bambu?) enorme. 
Gostava de brincar em uma pequena varanda coberta, logo na entrada da casa, ficava lá distraída enquanto a minha avó se ocupava com o jardim e a pequena horta que  havia criado no cantinho mais afastado. 
Ela pedia para que vigiasse e a avisasse quando o passarinho do relógio cuco saísse. Eu acreditava que morava um passarinho de verdade naquela bonita casa de madeira pendurada no hall de entrada. 
Também gostava de uma chapeleira que ficava atrás da porta. Sempre queria me ver naquele espelho, mas não alcançava, às vezes alguém me carregava para ver, até que um dia derrubei o móvel tentando escalar por onde colocavam os guarda-chuvas, apanhei da minha mãe...
Engraçado que não tenho memória nenhuma da cozinha, nem dos móveis da sala, fora uma cristaleira onde eu ficava admirando as peças de cristais que também não podia tocar de jeito nenhum. Lembro do meu pai me  carregando para o quintal e mostrando a luz incidindo em um daqueles copos, reflexos brilhantes e coloridos nas minhas mãos, muito bonitos...Não sei como ele conseguiu me convencer que a minha caneca de plástico com adesivo de rosas era mais bonita...
Havia um poço nos fundos,  achava que vivia um animal gigantesco que sempre tentava subir e então soava o alarme(na verdade era a bomba em funcionamento), um galinheiro e um anexo, quarto e banheiro. Minha mãe me trancou naquele quarto uma vez, não sei mais o porquê, mas me lembro do medo, de gritar e esmurrar a porta e olhar em torno...Vi um montão de pratos, copos e comecei a montar uma torre para fugir pela janela! Já estava no meio da "construção" quando minha avó abriu a porta. Ela dizia que o maior perigo era quando não me escutava. Não brigou comigo, só me disse que eu iria cair e poderia machucar o rosto. E quando crescesse não seria tão bonita para arranjar um bom casamento!!! 
          O meu lugar favorito era o meio da escada que levava para os quartos. Uma escada larga em "L", de madeira, com um patamar quadrado, lembro até hoje do cheiro da cera. Ficava muito tempo brincando naqueles degraus sozinha, mas nunca me senti só. Meus pais trabalhavam, minha irmã era um bebê e minha avó cuidava de nós duas e de tudo o mais. 
Tenho boas lembranças daquela casa, para mim parecia um castelo. Nos mudamos de lá quando eu tinha uns cinco anos.

Sempre tenho saudades da minha avó. Foi uma pessoa muito carinhosa e sensível. 
Colocava a minha canequinha dentro da cristaleira junto com as taças e copos de cristais. 








#pequenacrônicadeumtempo

hemorocallis




Até alguns dias atrás eu as chamava de lírios, mas não,  são  #hemorocallis.
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          Minha avó costumava pedir para colhe-las, não as flores abertas, nem as murchas, só os botões alongados.  
Ela lavava e espalhava num cesto de vime enorme, aos meus olhinhos pareciam, para serem secas ao sol. 
Poh-poh, como eu a chamava, temperava a carne bovina fatiada fina em pedaços bem pequenos com as hemorocallis secas e picadas. 
Um pouco de sal, um pouco de açúcar,  um pouco de pinga e um pouco de molho de soja - assim ela me ensinava, eu na ponta dos pés agarrada à pia, escutava. 
Depois cozia no banho-maria.
Não me recordo do gosto, naquela época não precisava comer, só queria brincar.





#pequenacrônicadeumtempo

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sexta-feira, 2 de outubro de 2015

sereiando...




Navego pelas águas do conforto
Brinco com as marolinhas
Se canso, me afogo te levando comigo