sábado, 3 de outubro de 2015

o castelo...



















Não me recordo da fachada, nem a cor das paredes.
Sei em qual bairro está situado, mas não tenho o endereço. Acho que era uma casa comum. 
Havia uma garagem, uma escada estreita  e um portão onde eu era proibida de chegar perto. 
Sob essa garagem, um espaço enorme para correr e dar tchau para os aviões que passavam, e um jardim onde minha avó me pedia para arrancar uma ou outra planta e  secar tudo em uma peneira de vime (bambu?) enorme. 
Gostava de brincar em uma pequena varanda coberta, logo na entrada da casa, ficava lá distraída enquanto a minha avó se ocupava com o jardim e a pequena horta que  havia criado no cantinho mais afastado. 
Ela pedia para que vigiasse e a avisasse quando o passarinho do relógio cuco saísse. Eu acreditava que morava um passarinho de verdade naquela bonita casa de madeira pendurada no hall de entrada. 
Também gostava de uma chapeleira que ficava atrás da porta. Sempre queria me ver naquele espelho, mas não alcançava, às vezes alguém me carregava para ver, até que um dia derrubei o móvel tentando escalar por onde colocavam os guarda-chuvas, apanhei da minha mãe...
Engraçado que não tenho memória nenhuma da cozinha, nem dos móveis da sala, fora uma cristaleira onde eu ficava admirando as peças de cristais que também não podia tocar de jeito nenhum. Lembro do meu pai me  carregando para o quintal e mostrando a luz incidindo em um daqueles copos, reflexos brilhantes e coloridos nas minhas mãos, muito bonitos...Não sei como ele conseguiu me convencer que a minha caneca de plástico com adesivo de rosas era mais bonita...
Havia um poço nos fundos,  achava que vivia um animal gigantesco que sempre tentava subir e então soava o alarme(na verdade era a bomba em funcionamento), um galinheiro e um anexo, quarto e banheiro. Minha mãe me trancou naquele quarto uma vez, não sei mais o porquê, mas me lembro do medo, de gritar e esmurrar a porta e olhar em torno...Vi um montão de pratos, copos e comecei a montar uma torre para fugir pela janela! Já estava no meio da "construção" quando minha avó abriu a porta. Ela dizia que o maior perigo era quando não me escutava. Não brigou comigo, só me disse que eu iria cair e poderia machucar o rosto. E quando crescesse não seria tão bonita para arranjar um bom casamento!!! 
          O meu lugar favorito era o meio da escada que levava para os quartos. Uma escada larga em "L", de madeira, com um patamar quadrado, lembro até hoje do cheiro da cera. Ficava muito tempo brincando naqueles degraus sozinha, mas nunca me senti só. Meus pais trabalhavam, minha irmã era um bebê e minha avó cuidava de nós duas e de tudo o mais. 
Tenho boas lembranças daquela casa, para mim parecia um castelo. Nos mudamos de lá quando eu tinha uns cinco anos.

Sempre tenho saudades da minha avó. Foi uma pessoa muito carinhosa e sensível. 
Colocava a minha canequinha dentro da cristaleira junto com as taças e copos de cristais. 








#pequenacrônicadeumtempo

Um comentário:

  1. Querida as reminiscências infantis são muito fecundas. Encantadora história acho andei brincando contigo na escada. Beijos

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